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sábado, 3 de setembro de 2011

Estás No Meu Pensamento


Estás no pensamento,
fixa, presa,
como a estrela no céu
como a nudez da beleza
sob um véu...

Estás no pensamento,
como a espuma na vaga...
Em vão o vai e vem do mar:
ela nunca apaga...

Estás no pensamento
como , na estória, o tema;
como a palavra, no poema;
como o sopro, no vento;
como a música no instrumento;

como o marulho no rio;
como a chama no pavio;
ou o pêndulo, no movimento...

Estás no meu pensamento
como a tatuagem na epiderme;
como a forma na escultura;
como o ritmo no "ballet"...
Como no espírito
a fé...

Estás no meu pensamento
como o som
na corda distendida;
como, na bússola, o Norte;
como a esperança, na vida;
como na Vida
a Morte!


J. G. de Araujo Jorge

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Que Nome Dar...



Que nome dar ao poeta
esse ser dos espantos medonhos?
um só encontro próprio e justo:
o de José o homem dos sonhos

Eu canto os pássaros e as árvores
Mas uns e outros nos versos ponho-os
Quem é que canta sem condição?
É José o homem dos sonhos

Deus põe e o homem dispõe
E aquele que ao longo da vereda vem
homem sem pai e sem mãe
homem a quem a própria dor não dói
bíblico no nome e a comer medronhos
só pode ser José o homem dos sonhos.


Ruy Belo (1933-1978)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Suave



Nas asas do tempo sobrevoo versos
E percebo que já não sou o que fui

Deixei para trás a tristeza que fazia
um ninho envolto em letras soltas

Havia poesia mas o sentimento
amarrava as sílabas e chorava

Hoje meu voo é suave

Escuto a cantoria das folhas
lambendo as gotas de orvalho

percebo a suavidade da lua
tocando a luz das estrelas

Sei que já não sou o que fui
fui tanta gente!

Sei que não sei o que serei
ainda penso e quero ser tanto!

Hoje meu voo é suave
o destino incerto
e a vida
leve.

Graça Ribeiro

Prece




Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode ergue-la ainda.

Dá o sopro, a aragem, – ou desgraça ou ânsia -
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!


Fernando Pessoa

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Borboletas



Na dança da nossa vida
nas voltas que ela dá
pelas estradas floridas
quantas borboletas há?...

São tantas borboletas, tantas,
volteando pelo ar
como se fossem almas santas
que não têm o seu altar.

Borboleta, no meu verso,
é canto à Natureza,
é música do Universo
descendo lá da Grandeza...

Borboleta tem valor
pelo que significa:
- pousada sobre uma flor
mais parece jóia rica.

As borboletas que nascem
no jardim da minha vida,
são flores, e se falassem
diriam: - somos agradecidas.

As borboletas queridas
são as almas encantadas
das pessoas que na vida
amaram e foram amadas.

Zoraida H. Guimarães
in Na Passarela do Tempo

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Solidão



Que fazer comigo,
com tanto sonho, tanto,
se há lágrima e espanto
na noite sem ti?

Que fazer comigo
com tanta esperança,
se a noite tão mansa
não te traz a mim?

Que fazer comigo
se a estrela mais linda
desta noite ainda
não brilhou no céu?

Que fazer com tanta
vida, neste instante,
se estás tão distante
que anoiteceu?


Emílio Moura

domingo, 28 de agosto de 2011