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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

NATALIE MERCHANT

LUCIANA SOUSA - Pablo Neruda -

ALVIN LEE - The Bluest Blues -

ROSA BRANCA AO CREPÚSCULO


Inclinas triste o rosto
nas folhas, para a morte,
respiras luz fantástica
e emites sonhos pálidos.

Íntima como um canto,
à última luz flutua
no quarto, a tarde toda,
a doce fragrância tua.

No inefável se engaja
tua alma temerosa,
e vai rindo e morrendo
em meu peito, irmã rosa.


Hermann Hesse

JUNQUILHOS


Nessa tarde mimosa de saudade
Em que eu te vi partir, ó meu amor,
Levaste-me a minh’alma apaixonada
Nas olhas perfumadas duma flor.

E como a alma, dessa florzita,
Que é a minha, por ti palpita amante!
Oh alma doce, pequenina e branca,
Conserva o teu perfume estonteante!

Quando fores velha, emurchecida e triste,
Recorda ao meu amor, com teu perfume
A paixão que deixou e qu’inda existe…

Ai, dize-lhe que se lembre dessa tarde,
Que venha aquecer-se ao brando lume
Dos meus olhos que morrem de saudade!


Florbela Espanca

Museu Virtual

É ASSIM QUE TE QUERO AMOR


É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

Pablo Neruda

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CANÇÃO DO MAR

CARLOS PAREDES - Verdes Anos -

Quando...


Quando as folhas caírem,
e tu fores procurar
minha cruz no campo-santo,
hás de encontrá-la,
meu amor, num canto,
circundado de flores.
Colhe, então,
para os teus lindos cabelos,
cada flor que do peito meu florisse!
São versos que pensei sem escrevê-los,
São palavras de amor que não te disse...

Lorenzo Stechetti

A Dança


"E ontem eu dancei.
Dancei com o passado...
Dancei com o presente...
E ousei dançar com o futuro...
No futuro senti meu corpo mais leve...
E a dança, era diferente...
No começo estranhei...
Fechei os olhos...
E aos poucos me entreguei ao compasso...
E conforme eu me libertava do passado,
mais presente se fazia o meu futuro.
E dançando, trouxe você para perto de mim...
Senti seu cheiro...
Senti sua mão segurando a minha...
Senti meu corpo estremecer...
E ainda de olhos fechados,
delicadamente encostei meu rosto no seu...
Senti sua respiração...
Senti sua boca...
Senti você...
Eu e Você...
Dançando a dança da vida."


Sandra Soave

Folhas


Tanta folhagem seca! Outono é fim!
O primeiro sono chega. Tudo acalma.
Como se a morte me tivesse a mim
Dando-lhe a graça de mais uma alma.

É ténue a luz do sol... pálida, enfim
A censurar a tarde breve e calma
A noite desce cedo... cobre assim
Todo o calvário do meu choro d'alma.

Apanhei uma folha... está cansada
Como se mesmo assim a madrugada
A tivesse beijado com paixão

Passei pelos meus dedos com carinho
Dizendo-lhe a lembrar... muito baixinho:
Que há beijos como ela pelo chão.


Maria José Veiga e Moura

TAKEN BY TREES - My Boys -

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

DE ESPERAS CONSTRUÍMOS O AMOR


De esperas construímos o amor intenso e súbito
que encheu as tuas mãos de sol e a tua boca de beijos.
Em estranhos desencontros nos amamos.
Havia o rio mas sempre ficávamos na margem.
Eu tocava o teu peito e os teus olhos e, nas minhas mãos,
a tarde projectava as suas grandes sombras
enquanto as gaivotas disputavam sobre a água
talvez um peixe inquieto, algo que nunca pudemos ver.
As nossas bocas procuravam-se sempre, ávidas e macias
E por muito tempo permaneciam assim, unidas,
machucando-se, torturando as nossas línguas quase enlouquecidas.
Depois olhávamo-nos nos olhos.
No mais profundo silêncio.
E, sem palavras,partíamos com as mãos docemente amarradas
e os corações estoirando uma alegria breve
Quando a noite descia apaixonada
Como o longo beijo da nossas despedida.


Joaquim Pessoa

HORA DO AMOR


Vem.
Adormece encostada a este braço
Mais débil do que o teu.
Entrega te despida
Nas mãos dum homem solitário
Que a maldição não deixa
Que possa nem sequer lutar por ti.
Vem,
Sem que eu te chame, ou te prometa a vida.
E sente que ninguém,
No descampado deste mundo, tem
A alma mais guardada e protegida.


Miguel Torga

SILÊNCIO


Os sonhos estão longe, além mar.
Seguem a vida lenta e arrastada...
Quisera deitar e sonhar apaixonada
Numa noite enluarada a beira-mar!

O que está longe se veste de saudade
E nossas horas tão breves são...
Têm da pluma a mesma densidade
Os sonhos no templo de adoração!

Até os sinos se perdem quando toados
Aos caprichos do vento que vai e vem.
Assim são nossos sonhos também
Quando esperamos tempos dourados.

O longo silêncio da real verdade,
Que a nossa voz num pranto silencia,
Deixa aos sentidos apenas a saudade,
Da vontade que o coração anuncia...


Efigênia Coutinho

VOCÊ NUNCA ESTÁ SÓ


Você nunca está só. Sempre a seu lado
Há um pouquinho de mim pairando no ar.
Você bem sabe: o pensamento é alado...
Voa como uma abelha sem parar.

Veja: caiu a tarde transparente.
A luz do dia se esvaiu... Morreu.
Uma sombra alongou-se a seus pés mansamente...
Esta sombra sou eu.

O vento ao pôr do sol, num balanço de rede,
Agita o ramo e o ramo um traço descreu.
Este gesto do ramo na parede
Não é do ramo: é meu.

Se uma fonte a correr, chora de mágoa
No silêncio da mata, esquecida de nós,
Preste bem atenção nesta cantiga da água:
A voz da fonte é a minha voz.

Se no momento em que a saudade se insinua
Você nos olhos uma gota pressentiu,
Esta lágrima, juro, não é sua...
Foi dos meus olhos que caiu...

Olegário Mariano

HERMÍNIA SILVA - Fado Da Sina -

DINA TERESA - Novo Fado Da Severa -

terça-feira, 12 de outubro de 2010

POEMA DA AMANTE


Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.


Adalgisa Nery

ESPERANÇA


Esperança!... Não falhes, vem comigo!
Tu que és capaz de colorir o vento,
vem! – te peço - adoçar meu pensamento
com os favos de mel do amor antigo!

Esperança! Não deixa o desalento
se intrometer nesta ilusão que abrigo.
Não ponhas aqui dentro este inimigo
chamado:- “ Não te quero!” - não o aguento.

Esperança !... Perfuma meu agora
com a certeza que nunca se evapora
uma promessa feita à luz da lua.

Esperança!... Ó mentira deliciosa!
tu que anulas espinhos de uma rosa,
me faz, mais vez ouvir..: - Sou tua!


Miguel Russowski

TUDO POR VOCÊ


Já vi milagres acontecerem,
Desejos concretizados,
Já vi corações partidos,
De amores despedaçados.

Sonhos ressuscitados,
Amizades reconstruídas,
Mas nunca vi tanta mudança,
Desde que chegaste a minha vida.

Passas em meio ao meu coração,
Dominando minhas forças,
E não consigo me mover,
Como se minha vida esperasse por você.

Nascem flores onde passas em mim,
Nunca vi milagre assim...
Eu que tinha o sonho perdido no tempo,
E um coração vazio em mim.

Vejo-me agora a sonhar com você,
Esperar pelo momento de te ter,
A viver de você - tudo por você...

Me perguntas: Com o que te conquistei?
Eu, já não cria no amor! E agora vivo de amar-te!
Com as cordas do amor eterno me conquistastes,

Peço-te, não desate as cordas do amor,
Não tente compreende-las, nem discerni-las,
Deixa-me amá-lo, assim como amo!

Pois de qualquer forma amar-te-ia,
Mesmo se não visse seu rosto e não ouvisse sua voz,
...mesmo, se apenas lesse sua poesia.

Mesmo se no tempo não houvesse mais tempo,
E minha esperança houvera de novo perdida,
Amar-te ia mesmo assim... Por toda minha vida.


Silviah Carvalho

QUANDO CHEGA O AMOR


Chega o amor
E com ele o sofrimento,
O desalento a dor, a solidão...
Chega o amor.

E vem trazendo a duvida;
E com medo de perder
O que nem sempre se possui
Vamos vivendo de ilusão,

Mas ele chega,
Quando não esperamos
Sempre acompanhado de coragem!
Alegria, temor e paz...

É uma força sobrenatural,
Que ignora a distancia,
Estado civil, raça, cor
Ou condição social,

Misto de sentimentos!
Que ultrapassa barreiras,
Para viver de momentos.
Entranhável afeto,

Ora paz ora guerra,
Conflitante, envolvente!
E quase sempre
Não chega a lugar algum

Insiste em ser dois, e às vezes,
Por muitas vezes! Tem que ser apenas um,
O amor é isso, ninguém explica,
A si mesmo se justifica

É como um pássaro cego
Que voando sem direção
Pousa em qualquer lugar...

E esse qualquer lugar,
Chamamos de coração.


Silviah Carvalho

INGÊNUA ESPERANÇA


Hoje lembrei-me um pouco da infância...
E retornei ao tempo em que eu brincava,
Naquele verde intenso da invernada,
A vencer com vigor qualquer distância.

Meu coração remorso algum portava;
Saudade alguma me fazia assédio;
Nem solidão, para trazer-me o tédio
Havia, quando a sós eu me encontrava.

Mas da vida ao sentir fortes açoites,
Vendo meus dias se tornarem noites,
Nesta luta sem fim para viver:

Penso: (mas que ingênua essa esperança!)...
"Ah! Se eu voltasse, um dia a ser criança.
E assim ficasse, sem jamais crescer!"


Sá de Freitas

EDWINA HAYES

CALVIN HARRIS - I'm Not Alone -

KIKO LOUREIRO - Dilemma -

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

AMOR....


Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo,
que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em taltal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,
juntos desde a roupa às raízes,
juntos de outono, de água, de quadris,
até ser só tu, só eu juntos.
Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,
a desembocadura da água de Boroa,
pensar que separados por trens e nações
tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos
com todos confundidos, com homens e mulheres,
com a terra que implanta e educa cravos.


Pablo Neruda

O TEU RISO


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.


Pablo Neruda

CONTO DE FADAS


Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor.

Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.

Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa de conto: "Era uma vez..."


Florbela Espanca

PAUL McCARTNEY - Something -

TICO -TICO NO FUBÁ

domingo, 10 de outubro de 2010

LUCINDA WILLIAMS





Palavra


O que é uma palavra?
Quando te digo tantas
em todos os instantes...

O que é uma palavra?
Quando o silêncio se instala
e as ausências se notam...

O que é uma palavra?
Quando é de Amor?

O que é uma palavra?
É quando a Sonhamos?


Helena de Sousa Freitas

Sintonia


A sintonia entre nossas almas
é tanta,que nossos olhos
conversam em silêncio
e dizem tudo...


Regina Azenha

ANDRÉ SARDET - Foi Feitiço -


Foi Feitiço

Eu gostava de olhar para ti
E dizer-te que és uma luz
Que me acende a noite,
Me guia de dia
E seduz.
Eu gostava de ser como tu
Não ter asas e poder voar
Ter o céu como fundo
Ir ao fim do mundo e voltar

Eu não sei o que me aconteceu
Foi feitiço,
O que é que me deu?
Pra gostar tanto assim de alguém
Como tu...

Eu gostava que olhasses para mim
E sentisses que sou o teu mar
Mergulhasses sem medo
Olhar em segredo
Só pra eu... te abraçar

Eu não sei o que me aconteceu
Foi feitiço,
O que é que me deu?
Pra gostar tanto assim de alguém
Como tu...

O primeiro impulso
É sempre o mais justo
É mais verdadeiro
E o primeiro susto
Dá voltas e voltas
Na volta redonda
De um beijo profundo

Eu...
Eu não sei o que me aconteceu
Foi feitiço,
O que é que me deu?
Pra gostar tanto assim de alguém
Como tu...

Eu não sei o que me aconteceu
Foi feitiço,
O que é que me deu?
Pra gostar tanto assim de alguém
Como tu...
Como tu...


Composição: João Pedro Pais

Alegoria do Dia e da Noite


São dois cavalos de variado porte,
Cavalgando-os por sonhos, pesadelos,
Descubro o colorido de seus pêlos,
Atento aos pontos cardeais da morte.

Talvez ao branco, ao preto me reporte,
Levam-me (sem ouvir os meus apelos)
Aonde não sei. Quem poderá detê-los?
Assim talvez à ilha do sonho aporte.

Soam os dois quais músicas em dueto
E, ao vê-los, minhas lágrimas estanco,
Atos do herói que antes não fui – cometo,

Poemas de amor do coração arranco.
– Sou noite e morte no cavalo preto,
Sou dia e vida no cavalo branco.



Colombo de Souza
in Antologia Poética (1.973)