VISITANTES

sábado, 26 de junho de 2010

COLBIE CAILLAT - Bubbly -

COLBIE CAILLAT - Midnight Botte -

ALIANÇA - Amanhã é Sempre Longe Demais -

CAMINHO


Caminho a teu lado
Tu
Com toda a vida a procriar
Eu
Simplesmente contemplando
Imagino acompanhar-te
Ser teu pulsar
E limitado
Deixo-me banhar de brisa
Levando na alma o teu odor

.
By Jorge Pereira

sexta-feira, 25 de junho de 2010

EMILIANA TORRINI - Great -

MULHER PROLETÁRIA


Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.


Jorge de Lima

LÁGRIMA


Ó lágrima bendita e santa e universal,
Eu te quero cantar, e este meu canto inspire-o
A feição que eu te dei, de intérprete geral
Da dor - de todo ser infalível martírio…

Que processo te faz no minério em cristal,
E na gota que luz no cálice do lírio?
Talvez tenham os dois, uma tortura igual
À tortura que funde em lágrimas o círio.

Seja embora ilusão, hei de sempre mantê-la:
- No côncavo do céu, há lágrimas astrais
E o bólide celeste é a lágrima da estrela!

Malfadadas irmãs! - são lágrimas iguais:
A resina que cobre as árvores fendidas
E a lágrima de dor das íntimas feridas!


Jorge de Lima

MUMFORD & SONS - The Cave -

MUMFORD AND SONS - Little Lion Man -

FLORENCE AND THE MACHINE - Cosmic Love -

AMANTES


uma flor
não longe da noite
meu corpo mudo
se abre
à delicada urgência do orvalho


Alejandra Pizarnik

A SOLIDÃO A SUA PORTA


Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando, pelo desuso da navalha,
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.


Carlos Pena Filho

SONETO


O quanto perco em luz conquisto em sombra.
E é de recusa ao sol que me sustento.
Às estrelas, prefiro graves dos conventos.

Humildemente envolvo-me na sombra
que veste, à noite, os cegos, monumentos
isolados nas praças esquecidas
e vazios de luz e movimento.

Não sei se entendes: em teus olhos nasce
a noite côncava e profunda, enquanto
clara manhã revive em tua face..

Daí amar teus olhos mais que o corpo
com esse escuro e amargo desespero
com que haverei de amar depois de morto.


Carlos Pena Filho

FLY ME TO THE MOON - Bossa Nova -

JET - Look What You've Done -

JET - Move On -

quinta-feira, 24 de junho de 2010

MENDIGANDO


Tua mão estendida
Na vergonha do dia
Pedindo esmola do teu suor
Desistência do caminhar
No saco vazio da esperança
Onde sob o tecto da indeferença
Transpostas o manto do teu frio
Que te espreita coitado´
Recolhes-te humilde e expulso
Com grito de dor velinha
Prenhe de sangue
De vida´
E raizes sedentas
Chorando no colo da saudade
E no orvalho da alma de cada amanhecer
O encontro de desencontros
Mendigando

.
by Jorge Pereira

MUMFORD & SONS - Winter Winds -

JAMES BLUNT - Same Mistake -

DA GRANDE PÁGINA ABERTA DO TEU CORPO


Da grande página aberta do teu corpo
sai um sol verde
um olhar nu no silêncio de metal
uma nódoa no teu peito de água clara

Pela janela vejo a pequenina mão
de um insecto escuro
percorrer a madeira do momento intacto
meus braços agitam-te como uma bandeira em brasa
ó favos de sol

Da grande página aberta
sai a água de um chão vermelho e doce
saem os lábios de laranja beijo a beijo
o grande sismo do silêncio
em que soberba cais vencida flor.


António Ramos Rosa
in Antologia Poética
Selecção de Ana Paula Coutinho Mendes

MIRAGEM


Eu no espelho: atentas, nós duas
nos observamos para além da imagem.
Estendemos a mão, tocamos esse pó de gelo,
sabendo:
se eu mergulhar daqui, e do seu lado, ela,
vão se fundir num sopro nossos rostos,
todos os meus sonhos e os anseios dela.

Mas nenhuma se atreve. Continuamos
sozinhas nesse mundo de reflexos,
eu e ela incompletas, nuas
e sós.

(Lia Luft)





AQUELA CATIVA


Aquela cativa

Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

Ũa graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E, pois nela vivo,
É força que viva.

Luiz Vaz de Camões

FESTAS JUNINAS


Junho é o mês dos folguedos
Não solte balão nas cidades
Há bolos quadrilhas brinquedos
Cantigas pra todas idades
Até na quadrilha infantil
A dança remexe o quadril

Há milho assado cheirando
Canjica, tapioca, cuscuz,
E todos dançando, cantando,
Ao redor da fogueira a luz
Aplausos por todos os lados
Festejando casais namorados

O sanfoneiro tocando
Corpos suados que riem
A noiva aparece chorando
O noivo fugiu, que agonia.
O padre chegando insiste
Vem logo juiz, não despiste

O moço volta assombrado
Tiroteio ressoa no ar
O sim dado de bom grado
A noiva sorrir sem falar
O resto é só festança
Até quando o sol apontar


Sogueira

CAFÉ DEL MAR - The Best Of -

JET - Radio Song -

JET - Eleanor -

quarta-feira, 23 de junho de 2010

TEUS OLHOS



Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima,
silêncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremece,
paisagem solitária.

Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"

terça-feira, 22 de junho de 2010

BOSSA NOVA

O AMOR E O OUTRO


Não amo

melhor
nem pior
do que ninguém.


Do meu jeito amo
Ora esquisito, ora fogoso,
às vezes aflito
ou ensandecido de gozo.
Já amei
até com nojo.


Coisas fabulosas
acontecem-me no leito. Nem sempre
de mim dependem, confesso.
O corpo do outro

é que é sempre surpreendente.

Affonso Romano de Sant'Anna

CATANDO OS CACOS DO CAOS


Catar os cacos do caos
como quem cata no deserto
o cacto
- como se fosse flor.

Catar os restos e ossos
da utopia
como de porta em porta
o lixeiro apanha
detritos da festa fria
e pobre no crepúsculo
se aquece na fogueira erguida
com os destroços do dia.

Catar a verdade contida
em cada concha de mão,
como o mendigo cata as pulgas
no pêlo
- do dia cão.

Recortar o sentido
como o alfaiate-artista,
costurá-lo pelo avesso
com a inconsútil emenda
à vista.

Como o arqueólogo
reunir os fragmentos,
como se ao vento
se pudessem pedir as flores
despetaladas no tempo.

Catar os cacos de Dionisio
e Baco, no mosaico antigo
e no copo seco erguido
beber o vinho
ou sangue vertido.

Catar os cacos de Orfeu partido
pela paixão das bacantes
e com Prometeu refazer
o fígado
- como era antes.

Catar palavras cortantes
no rio do escuro instante
e descobrir nessas pedras
o brilho do diamante.

É um quebra-cabeça? Então
de cabeça quebrada vamos
sobre a parede do nada
deixar gravada a emoção

Cacos de mim
Cacos do não
Cacos do sim
Cacos do antes
Cacos do fim

Não é dentro
nem fora
embora seja dentro e fora
no nunca e a toda hora
que violento
o sentido nos deflora.

Catar os cacos
do presente e outrora
e enfrentar a noite
com o vitral da aurora.


Affonso Romano Sant'Anna

AMY WINEHOUSE - Wake up Alone -

MARIA GADÚ - Bela Flor -

MARIA GADÚ - Ne Me Quitte Pas -

segunda-feira, 21 de junho de 2010

CANÇÃO SUSPIRADA


Por que desejar libertar-me,
se é tão bom não ver o teu rosto,
se ando em meu sonho como, num rio,
alguém que é feliz e está morto?

Por que pensar em qualquer coisa,
se tudo está sobre a minha alma:
vento, flores, águas, estrelas,
e músicas de noite e albas?

Nos céus em sombra há fontes mansas
que em silêncio e esquecida bebo.
Flui o destino em minha boca
e a eternidade entre os meus dedos...

Por que fazer o menor gesto,
se nada sei, se nada sofro,
se estou perdida em mim, tão perdida
como o som da voz no teu sopro.


Cecília Meireles

CANTIGA DE PESCADOR


Sobre a canoa-Remos de mel
Meus castanhos olhos contemplam o mar que se abre
E estende passadeiras doiradas
Sob o ceu vestido de azul
Que abraça as águas´
Uma gaivota perseguindo meu sonho
E cantando-me na alma uma cantiga de pescador
Depositada no anzol a sua dor
Lançada até á ilha´Para lá do horizonte
Onde guarda outros sonhos.
E a brisa
Arrastando gotas de frescura
Banha-nos tambem a mente
Despertando-nos para a realidade´
Mundo de travo sabor

.
By Jorge Pereira

DEU VERDE-AMARELO