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sábado, 3 de abril de 2010

PÁSCOA


Porque para ressuscitar um Deus
não se prescrevem datas
(o divino brota
quando se rompem couraças)

e porque os símbolos, os mitos
são do humano a ceia mais farta,
peço-vos licença, Senhor de minha estória,
para à vossa mesa sentar-me,
com minha nudez
e toda fome de minha alma
inglória.


Fernando Campanella
by PalavreAres-Poemas,Crônicas & Imagens

TOMARA


Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz

E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais


Vinícius de Moraes
In Livro de Letras

ETTA JAMES - I'd Rather Go Blind -

ALGA


Paira na noite calma
O silêncio da brisa...
Acontece-me à alma
Qualquer cousa imprecisa...

Uma porta entreaberta...
Um sorriso em descrença...
Uma ânsia que não acerta
Com aquilo em que pensa.

Sonha, duvida, elevo-a
Até quem me suponho
E a sua voz de névoa
Roça pelo meu sonho...


Fernando Pessoa
24.07.1916
In Novas Poesias Inéditas

KATIE MELUA - I Put A Spell on You -

EDGAR CRUZ - Bohemin Rhapsody -

SOLIDÃO


Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso

Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio

É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou

Mas os ruídos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna

Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
às rochas do tempo


Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

TITI - Gnoogui Tubb

SECKOU KEITA QUARTET

FUI SABENDO DE MIM


Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia

pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia

fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei

eu vi
a árvore morta
e soube que mentia


Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

PASSEMOS, TU E EU, DEVAGARINHO


Passemos, tu e eu, devagarinho,
Sem ruído, sem quase movimento,
Tão mansos que a poeira do caminho
A pisemos sem dor e sem tormento.

Que os nossos corações, num torvelinho
De folhas arrastadas pelo vento,
Saibam beber o precioso vinho,
A rara embriaguez deste momento.

E se a tarde vier, deixá-la vir...
E se a noite quiser, pode cobrir
Triunfalmente o céu de nuvens calmas...

De costas para o Sol, então veremos
Fundir-se as duas sombras que tivemos
Numa só sombra, como as nossas almas.


Reinaldo Ferreira

TALVEZ



Talvez o universo não exista.
Seja apenas a sombra fugitiva
da idéia de um universo; ou talvez
seja a perdida infância, o clarão
de alguma inteligência subitânea.
Sim, talvez não exista.Seja um medo
de haver mais testemunhos, relações
afetos exteriores ou temidos,
ou mero espectador de algum incêndio
havido e não sabido ou antecipado
para que reste cinza, cinza e vão.

Ou nada reste de um sistema,
uma harmonia cósmica, o pavor
de alguém nos assistir, estando ausente.
Não existe universo, nem o dia
ou a noite.Nós inventamos tudo,
inventamos a nós mesmos
e esquecemos a fórmula, o entrecho,
inventando o esquecimento.

Ou é invenção o pensamento,
uma argúcia engedrada pelos deuses
de se engedrarem juntos, nos pensando.
Ou o universo seja apenas quando
cessarmos de existir, desentocando
o mistério maior, aquele plasma
que rege a potestade, ou forma insone
de se viver, morrido, com o corpo
exilado num outro. O universo
se compõe, se dormimos.Ele existe.
Sobrevive tangível quando amamos
ou tontos despertamos. O universo
perturba, ferve nos corrói. E assoma.
Continuará depois que sepultarmos
essa comunicação, toda a vontade
e a matéria restrita ou desatenta.

E talvez o universo nos inventa.


Carlos Nejar
In Melhores Poemas

DESTINO


À ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos

vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso

conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso

agora
que mais
me poderei vencer?


Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

CORINNE BAILEY RAE - Since I've Been Loving You -

MARINA AND THE DIAMINDS - Obsessions -

WICCAN LULLABY

sexta-feira, 2 de abril de 2010

FLOR DA PAIXÃO DE CRISTO


No Brasil, a flor do maracujá é conhecida como a flor da Paixão de Cristo. A corona simboliza a coroa de espinhos. Os estiletes representam os pregos da crucifixão. Os estames, as cinco chagas e as cinco sépalas e cinco pétalas simbolizam os dez apóstolos, com exclusão de Judas, que traiu Jesus e de Pedro, que o negou três vezes.

SKIN - Purple -

SKUNK ANANSIE - Because Of You Kerrang -

JIMMY PAGE, JACK WHITE & EDGE

MYSTICISMO HUMANO


A alma é como a noute escura, immensa e azul,
Tem o vago, o sinistro, e os canticos do sul,
Como os cantos d'amor serenos das ceifeiras
Que cantam ao luar, á noute pelas eiras...
Ás vezes vem a nevoa á alma satisfeita,
E cae sombria, vaga, e meuda e desfeita...
E como a folha morta em lagos somnolentos
As nossas illusões vão-se nos desalentos!
(..)


António Gomes Leal, in 'Claridades do Sul'

CHRIS ISAAK - Wicked Game -

LED ZEPPELIN - Black Dog -

quinta-feira, 1 de abril de 2010

SAUDADE


Se eu te imagino distante,
Da minha vida deserta,
Por mais alegre que eu cante,
Mais a saudade me aperta.

Quando a saudade me aperta,
Por mais que eu viva e que eu cante,
A minha vida é deserta
Enquanto vives distante.

Na solidão da distância,
Quando a saudade me aperta,
Desaparece a fragrância
E a minha alma é deserta.


Cristina Silva Santos

KATIE MELUA - It"s All In My Head -

PEDRO JÓIA - Verdes Anos -

CHICO BUARQUE - O Meu Amor -



(...)
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

VIC CHESNUT - Coward -

PAZ


Irreprimível natureza
exacta medida do sem-fim
não atinjas outras distâncias
que existem dentro de mim.

Que os meus outros rostos não sejam
o instável pretexto da minha essência.
Possam meus rios confluir
para o mar duma só consciência.

Quero que suba à minha fronte
a serenidade desta condição:
harmonia exterior à estátua
que sabe que não tem coração.


Natália Correia, in "Poemas (1955)"

O POEMA


O poema não é o canto
que do grilo para a rosa cresce.
O poema é o grilo
é a rosa
e é aquilo que cresce.

É o pensamento que exclui
uma determinação
na fonte donde ele flui
e naquilo que descreve.
O poema é o que no homem
para lá do homem se atreve.

Os acontecimentos são pedras
e a poesia transcendê-las
na já longínqua noção
de descrevê-las.

E essa própria noção é só
uma saudade que se desvanece
na poesia. Pura intenção
de cantar o que não conhece.

Natália Correia, in "Poemas (1955)"

SPARKLEHORSE - Home Coming Queen -

CANÇÃO AMARGA


Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
— Importa amar, sem ver a quem...
Ser mau ou bom, conforme os dias.

Agora, tu, só entrevista,
quantas imagens me trouxeste!
Mas é preciso que eu resista
e não acorde um sonho agreste.

Que passes tu! Por mim, bem sei
que hei-de aceitar o que vier,
pois tarde ou cedo deverei
de sonho e pasmo apodrecer.

Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
— Importa amar, sem ver a quem...
Ser infeliz, todos os dias!


David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"

SPARKLEHORSE - Sad & Beautiful World -

SPARKLEHORSE - Hundresd Of Sparrows -

quarta-feira, 31 de março de 2010

PAISAGEM


Desejei-te pinheiro à beira-mar
para fixar o teu perfil exacto.

Desejei-te encerrada num retrato
para poder-te contemplar.

Desejei que tu fosses sombra e folhas
no limite sereno dessa praia.

E desejei: «Que nada me distraia
dos horizontes que tu olhas!»

Mas frágil e humano grão de areia
não me detive à tua sombra esguia.


(Insatisfeito, um corpo rodopia
na solidão que te rodeia.)

David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"

MI VIDA EN TUS MANOS

OLNEY CLARK - Josefin the Writer

QUE CULPA TERÃO AS ONDAS?


...Que culpa terão as ondas
Dos movimentos que façam?
São os ventos que as impelem
E sulcos profundos traçam.
Aos ventos quem lhes ordena
Que rasguem rugas no mar?
São as nuvens inquietas
Que os não deixam sossegar.
E as nuvens, almas de névoa,
Porque não param, coitadas?
É que as asas das gaivotas
As trazem desafiadas.
Mas as asas das gaivotas
O cansaço há-de detê-las!
Juraram buscar descanso
Nas pupilas das estrelas.
E como as estrelas estão altas
E não tombam nem se alcançam,
As asas das pobrezinhas
Baldamente se cansam
Baldamente se cansam,
Baldamente palpitam!
As nuvens, por fatalismo,
Logo com elas se agitam;
Os impulsos que elas dão
Arrastam as ventanias;
As vagas arfam nos mares
Em macabras fantasias

Assim as almas inquietas
Prisioneiras de ansiedades,
Mal que se erguem da terra,
Naufragam nas tempestades!


Reinaldo Ferreira

CONTEMPLAÇÃO


Milady, é perigoso contemplá-la,
Quando passa aromática e normal,
Com seu tipo tão nobre e tão de sala,
Com seus gestos de neve e de metal.

Sem que nisso a desgoste ou desenfade,
Quantas vezes, seguindo-lhe as passadas,
Eu vejo-a, com real solenidade,
Ir impondo toilettes complicadas!…

Em si tudo me atrai como um tesoiro:
O seu ar pensativo e senhoril,
A sua voz que tem um timbre de oiro
E o seu nevado e lúcido perfil!

Ah! Como me estonteia e me fascina…
E é, na graça distinta do seu porte,
Como a Moda supérflua e feminina,
E tão alta e serena como a Morte!…

Eu ontem encontrei-a, quando vinha,
Britânica, e fazendo-me assombrar;
Grande dama fatal, sempre sozinha,
E com firmeza e música no andar!

O seu olhar possui, num jogo ardente,
Um arcanjo e um demónio a iluminá-lo;
Como um florete, fere agudamente,
E afaga como o pêlo dum regalo!

Pois bem. Conserve o gelo por esposo,
E mostre, se eu beijar-lhe as brancas mãos,
O modo diplomático e orgulhoso
Que Ana de Áustria mostrava aos cortesãos.

E enfim prossiga altiva como a Fama,
Sem sorrisos, dramática, cortante;
Que eu procuro fundir na minha chama
Seu ermo coração, como a um brilhante.

Mas cuidado, milady, não se afoite,
Que hão-de acabar os bárbaros reais;
E os povos humilhados, pela noite,
Para a vingança aguçam os punhais.

E um dia, ó flor do Luxo, nas estradas,
Sob o cetim do Azul e as andorinhas,
Eu hei-de ver errar, alucinadas,
E arrastando farrapos - as rainhas!


Cesário Verde

O VENTO NA ILHA



O vento é um cavalo:
ouve como ele corre
pelo mar, pelo céu.

Quer levar-me: escuta
como percorre o mundo
para levar-me para longe.

Esconde-me em teus braços
por esta noite apenas,
enquanto a chuva abre
contra o mar e contra a terra
a sua boca inumerável.

Escuta como o vento
me chama galopando
para levar-me para longe.

Com tua fronte na minha
e na minha a tua boca,
atados os nossos corpos
ao amor que nos abrasa,
deixa que o vento passe
sem que possa levar-me.

Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e procure
galopando na sombra,
enquanto eu, submerso
sob os teus grandes olhos
por esta noite apenas
descansarei, meu amor.


Pablo Neruda

Sunshine On My Shoulder

50 FIRST DATES - Truly Madly Deeply -

OSWALDO MONTENEGRO -Intuição -

terça-feira, 30 de março de 2010

CORINNE BAILEY RAE - Like A Star -

RASTROS DE FLORES AMARELAS


Deixo meu rastro na terra
Em forma de flores astrais
Carrego nos anos da vida
Sonhos que não voltam mais

Deixo flores multicores
Verde canto de acalanto
São azuis as violetas
Que carrego com espanto

Trovador canta o romance
Das camponesas belas
Bailando sempre loucamente
Pisando em flores amarelas

Sigo em frente...
Envolvente, docemente
Sigo o som da cantiga
Da voz que ecoa no cais
Da vida da despedida
Dos mimosos madrigais


Anna kerenina

MARINA AND THE DIAMONDS - I'am A Not Robot -

UM MUNDO


É um sonho ou talvez só uma pausa
na penumbra. Esta massa obscura
que ela revolve nas águas são estrelas.
Entre aromas e cores, um barco de calcário
prossegue uma viagem imóvel num jardim.
Vejo a brancura entre os astros e os ramos.
Dir-se-ia que o ser respira e se deslumbra
e que tudo ascende sob um sopro silencioso.
Nenhum sentido mas os signos amam-se
e o brilho e o rumor formam um mundo.


António Ramos Rosa

A DELICADA MAJESTADE


Um dia poderás chegar, tu que nunca chegas
porque não és um tu
ou porque chegas sempre em não chegares.
Subi um dia por uma escada silenciosa
e em torno era um pomar branco, tranquila maravilha
e eu senti, eu vi, adivinhei
a divindade amada, a soberana e delicada
majestade. Que suavidade de oriente,
que suave esplendor! Era o fulgor de um sono
límpido, entre olhos verdes, entre mãos verdes.
E num repouso de oiro adormecido era quase um rosto
Antiquíssimo e inicial. Contemplava
a quietude de um imenso nenúfar
e a fragância era quase visível como um mar entreaberto.
Era um rio detido ou uma tersa nuca ou um braço estendido
que descansa entre ribeiros primaveris
ou era antes a serena felicidade
e era uma boca da terra que não cantava que não dizia
o silêncio ardente que no peito de espuma cintilava.


António Ramos Rosa

NÃO DESISTI DE HABITAR A ARCA AZUL


Não desisti de habitar a arca azul
do antiquíssimo sossego do universo.
A minha ascendência é o sol e uma montanha verde
e a lisa ondulação do mar unânime.
Há novecentas mil nebulosas espirais
mas só o teu corpo é um arbusto que sangra
e tem lábios eléctricos e perfuma as paredes.
Aos confins tranquilos entre ilhas mar e montes
vou buscar o veludo e o ouro da nostalgia.
Deponho a minha cabeça frágil sobre as mãos
de uma mulher de onde a chuva jorra pelos poros.
Ó nascente clara e mais ardente do que o sangue,
sorvo o
sob o grande vinho da sombra, sob o sono do sol.
Há bois lentos e profundos no meu corpo
de um outono compacto e negro como um século.
Com simultâneas estrelas nas têmporas e nas mãos
a deusa da noite, sonâmbula, desliza.
Ao rumor da folhagem e da areia
escrevo o teu odor de sangue, a tua livre arquitectura.
Prisioneiro de longínquas raízes
ergo sobre a minha ferida uma torre vertical.
Vislumbro uma luz incompreensível
sobre os campos áridos das semanas.
Elevo o canto profundo do meu corpo
sob o arco das tuas pernas deslumbrantes.
Escrevo como se escrevesse com os meus pulmões
ou como se tocasse os teus joelhos planetários
ou adormecesse languidamente no teu sexo.


António Ramos Rosa

JACK ROSE - At Harvest Time - Part One -

JACK ROSE - At Harvest Time - Part Two -

SILVIO RODRIGUEZ & PABLO MILANES - Sábado Corto -

ROBERT WYATT & ANNIE WHITEAD - Sea Song -

segunda-feira, 29 de março de 2010

A UM ROUXINOL CANTANDO


Ramalhete animado, flor do vento,
Que alegremente teus ciúmes choras,
Tu, cantando teu mal, teu mal melhoras,
Eu, chorando meu mal, meu mal aumento.

Eu digo minha dor ao sofrimento,
Tu cantas teu pesar a quem namoras,
Tu esperas o bem todas as horas,
Eu temo qualquer mal todo o momento.

Ambos agora estamos padecendo
Por decreto cruel do deus menino;
Mas eu padeço mais, só porque entendo:

Que é tão duro, e cruel o meu destino,
Que tu choras o mal, que estás sofrendo,
Eu choro o mal, que sofro, e que imagino.


Francisco de Vasconcelos Coutinho
(1665 / 1723)

VICENT DELERM - Natation Synchronisée -

VICENT DELERM

TINDERSTICKS - Travelling Light -

A TEMPESTADE


Milhões de barcos perdidos no mar!
Perdidos na noite!
As velas rasgadas de todos os ventos
os lemes sem tino
vogando ao acaso
roçando no fundo
subindo na vaga
tocando nas richas!
E quantos e quantos naufragando...
Quem vem acender faróis na costa do mar bravo?!
Quem?!


Manuel da Fonseca, Rosa-dos-Ventos

CHICO BUARQUE E MILTON NASCIMENTO - O Que Será -



O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite
O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
E todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo


Chico Buarque

ESPERANÇA


A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?
Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a Crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro - avança!
E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da Morte a me bradar, descansa!


Augusto dos Anjos

NANDO REIS E ANA CANAS - Pra Você Guardei o Amor

FAGNER - Canteiros -

FLORBELA ESPANCA - Ser Poeta -

domingo, 28 de março de 2010

UM DIA HÁS DE ENTENDER


Viajo
pelo céu azul
das minhas fantasias
carregando na bagagem
ilusões...

Levo nas mãos
meus sonhos
para que não se percam
na imensidão...

Ao flutuar nas nuvens
minh'alma enche-se
de esperança
acreditando
que esta viagem
não será em vão...

Um dia,
hás de entender...
É todo teu
este amor
que transborda do
meu coração...

Regina Azenha

ALÍCIA KEYS

QUANDO...


Quando olho nos teus olhos, me vejo em ti.
E o brilho do seu olhar ilumina minha alma,
que também é sua.
Nem o brilho das estrelas é tão puro.
Teu sorriso me alegra e se estou feliz,
tu também estás, pois fazes parte de mim.
Se uma lágrima desliza pelo seu rosto,
E cai cristalina no chão,...
Isso me dói mais que mil cortes no coração.
Mas se choras de alegria, então eu te abraço
E juntos somos um oceano.
Um mar azul,... verde,... da cor que quisermos,
Porém quando nos olhamos,
Eu sei e tu sabes,
Que estou em ti e tu estás em mim, para sempre.


Paulo N.L. de Oliveira

LEO SAYER - The Show Must go On -

FLORA PURIM - I Feel You -

OS PONTOS NEGROS -Conto de Fadas de Sintra a Lisboa -

VERTIGEM


Uma semana só. Nem mais um dia
durou aquela estranha sensação
que nos aproximava, nos unia...
e amor não era e nem era paixão.
Algo em mim te agradava, te atraía.
Tu tinhas para mim tal sedução
que, tendo-te ao meu lado, eu me sentia
a mulher mais feliz da criação.
Uma semana só... No meu caminho
um vislumbre de sol e de carinho:
uma sombra, talvez, na tua estrada...
Sete dias ardentes de Novembro...
Deves ter esquecido. E eu só me lembro
que nunca fui com tanto amor beijada!


(Adelaide (Yde) Schloenbach Blumenschein)

TARDE DE OUTONO


Foi numa tarde assim. O vento soluçava
Agoirando do inverno a lúgubre hospedagem
No céu pálido, branco, há muito não rodava
Do sol a luminosa e rútila equipagem.
A derradeira flor, no jardim desfolhava
Sua pétalas. Era inóspita a paisagem
Em tudo uma tristeza imorredoira errava
Meu Deus! Que dolorosa e tristonha miragem!
E eu, sonhando, revia em meu dourado sonho,
O meu viver tranqüilo, o meu viver risonho,
Tento junto de mim o teu amor calmo e terno.
Reinava um frio intenso...e tu partiste, envolto
Num último sorriso a murmurar "eu volto"
E não voltaste mais! Voltou somente o inverno...


Yde Schloenbach Blumenschein

DESENCANTO


Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.


Manuel Bandeira

SHEARWATER - St Mary"s Walk -

MOGWAI - Take Me Somewehere Nice -

ANNA NALICK - Breathe -