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sábado, 5 de dezembro de 2009

SOUND OF SILENCE - Gregorian Chant -

SONETO À TUA VOLTA


Voltaste, meu amor... enfim voltaste!
Como fez frio aqui sem teu carinho....
A flor de outrora refloresce na haste
que pendia sem vida em meu caminho.

Obrigado... Eu vivia tão sozinho...
Que infinita alegria, e que contraste!
-Volta a antiga embriaguez porque voltaste
e é doce o amor, porque é mais velho o vinho!

Voltaste... E dou-te logo este poema
simples e humilde repetindo um tema
da alma humana esgotada e envelhecida...

Mil poetas outras voltas celebraram,
mas, que importa? – se tantas já voltaram
só tu voltaste para a minha vida...


J.G.de Araújo Jorge
do Livro Eterno Motivo

POEMA DA GARE DE ASTAPOVO



O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua...
Sentou-se ...e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Gloria,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E entao a Morte,
Ao vê-lo tao sozinho aquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se ate não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!


(Mario Quintana)

FOCUS - Elspeth Of Nottingham -

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

E AS HORAS...


... E as horas lá se vão..
loucas ou tristes
mas é tão bom, em meio
às horas todas, pensar em ti
saber que tu existe...


( Mário Quintana)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

NÃO SEI...


Não sei sobre pássaros,
não conheço a história do fogo.
Mas creio que minha solidão deveria ter asas.


Alejandra Pizzarnik

AUTUMN LEAVES - Chet Baker -

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

EU PRECISO DE VOCÊ

WALTER - Jeff Dunham -

GRANDE SERTÃO VEREDAS - Parte 1 -

GRANDE SERTÃO VEREDAS - Parte 2 -

SONETO DA SAUDADE


Soneto da saudade

Quando sentires a saudade retroar
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
Eternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!

Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas...
E a te expressar que este amor em nós ungindo
Suportará toda distância sem problemas...

Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve
Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,
Como uma gota de orvalho indo ao chão.

Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos,
Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...
Nem a distância apaga a chama da paixão.


Guimarães Rosa

A IARA


A Iara
Bem abaixo das colinas de ondas verdes,
onde o sol se refrata em agulhas frias,
descem todas as sereias dos mares e dos rios,
irreais e lentas , como espectros de vidro,
para os palácios de madrépora de Anfitrite,
em vale côncavo, transparente e verde,
num recanto abissal, como uma taça cheia,
entre bosques e sargaços, espumosos,
e rígidos jardins geométricos de coral...

Por entre os delfins , sentinelas de Possêidon,
afundam, suspensas , soltas, como grandes algas,
carregando os jovens afogados:
Ondinas das praias , flexosas,
Nixes da água furtacor do Elba ,
Havefrus do Sund e Russalkas do Don ...
Loreley traz no esmalte doce dos olhos
duas gotas do Reno...
E danaides Laboriosas se desviam dos cardumes
De Nereidas,
que imergem, ondulando as caudas palhetadas
dos seus vestidos justos de lamé...

Mas a Iara não veio!...
Mas a Iara não vem!...
Porque Iara tem sangue,
porque a Iara tem carne,
sangue de mulher moça da terra vermelha,
carne de peixe da água gorda do rio...

Iara de olhos verdes de muiraquitã,
cintura pra cima de cunhantã
cintura pra baixo de tucunaré...
que veio, dormindo , Purus abaixo,
filha do filho do rei dos peixes
como uma índia branca cuchinauá...

Lá bem pra trás da boca aberta do rio,
onde solta seus diabos
o bicho feroz da pororoca,
ela ficou, cheia de medo,
brasiliana , tapuia , morena,
Tão orgulhosa,
Que não quer ser desprezada pelas outras...

E a Iara é preguiçosa,
tão preguiçosa,
que não canta mais as trovas lentas
em nhheengatu :
-- Iquê , ianê retama icu,
Paraná inhana tumassaua quitó...

Nem mais se esforça em seduzir
o canoeiro mura ou o seringueiro,
meio vestida com gaze das águas ,
na renda trançada dos igarapés...
E eu tenho de chorar:
-- Enfeitiça-me ó Iara,
que eu vim aqui pra me deixar vencer...

Mas custa-me encontrá-la,
e só à noite sem bordas dessas terras grandes,
quando a lua e as ninféias desabrocham soltas,
posso beijá-la ,
nua ,
dormida,
esguia,
bronzeada,
oleosa,
na concha carmesim de uma vitória-régia ,
tomando o banho longo
de perfume e luar...

Distância sentimental
Mesmo ao sonhar contigo,
só consigo que me ames noutro sonho
dentro do meu sonho primitivo...

João Guimarães Rosa

FRAGMENTOS



Se todo animal inspira ternura,o que houve,então,com os homens?



Ausência

Esfuziante e verde,
um beija-flor entrou pela janela,
(pensei que a tua boca ainda estivesse aqui…)




EGOÍSMO

Se fosse só eu
a chorar de amor,
sorriria...




TURBULÊNCIA

O vento experimenta
o que irá fazer
com sua liberdade...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O SONO DAS ÁGUAS


O SONO DAS ÁGUAS

Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme.

Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d'água,
nos grotões fundos
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...

Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem
e adormece.
Até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes...

Mas nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono...

Guimarães Rosa

VERGONHA




"Num mundo em que há migalhas e desperdícios,
pratos cheios de restos enfastiados
e bocas que salivam sem ter pão;
e em que há crianças tristes, maltrapilhas,
que não terão nem livros nem recreios
nem mesmo infância no seu coração;
num mundo onde os enfermos são tratados
com a caridade irônica dos homens
proprietários dos próprios hospitais;
onde alguns já nasceram infelizes
e hão de viver sem segurança e paz,
sem meios de lutar, abandonados,
e outros, trazem do berço as regalias
que hão de inutilizar, despreocupados;
num mundo, onde há mãos cheias, trasbordantes,
e há mendigando, pobres mãos vazias;
onde há mãos duras, ásperas, cansadas,
e suaves mãos inúteis e macias;
onde uns têm casas grandes, com jardins,
e outros, quartos estreitos, sem paisagem;
num mundo onde os artistas prisioneiros
fazem "roda" nos mesmos quarteirões
sonhando sempre uma impossível viagem;
e há homens displicentes, nos navios,
carregando "kodaks" distraídas
que têm mais alma que os seus olhos frios,
num mundo onde os que podem não têm filhos
e os que têm filhos, quase sempre lutam
porque não podem constituir um lar.
num mundo, onde ao mais leve olhar humano
vê-se que não há nada em seu lugar.
e onde, no entanto, fala-se em Direito,
em Justiça, em Razão, em Liberdade;
num mundo onde os que plantam, pouco colhem
e os que colhem, não sabem, na verdade,
de onde vêm as colheitas que consomem;
num mundo, onde uns jejuam muitos dias
outros, por vício, muitas vezes comem,
Sinto a angústia fatal de ter nascido
e a suprema vergonha de ser homem!"


[Poema de J.G.de Araújo Jorge]

BREVE NÚMERO


( 'Salvador Dali ' by Philippe Halsman)

'No Breve Número'

No breve número de doze meses
O ano passa, e breves são os anos,
Poucos a vida dura.
Que são doze ou sessenta na floresta
Dos números, e quanto pouco falta
Para o fim do futuro!
Dois terços já, tão rápido, do curso
Que me é imposto correr descendo, passo.
Apresso, e breve acabo.
Dado em declive deixo, e invito apresso
O moribundo passo.


Ricardo Reis

MEU AMOR É MARINHEIRO


Meu amor é marinheiro
e mora no alto mar
seus braços são como o vento
ninguém os pode amarrar.

Quando chega à minha beira
todo o meu sangue é um rio
onde o meu amor aporta
seu coração um navio.

Meu amor disse que eu tinha
uns olhos como gaivotas
e uma boca onde começa
o mar de todas as rotas.

Meu amor disse que eu tinha
na boca um gosto a saudade
e uns cabelos onde nascem
os ventos e a liberdade.


*Manuel Alegre*

domingo, 29 de novembro de 2009

ADRIANA CALCANHOTO - Um Dia Desses -

ERA FRIO...


"Era frio
Não sei dizer se fazia mais frio
do lado de fora, da minha blusa
ou dentro do meu coração.
Provavelmente competiam."


Caio Fernando Abreu

SERRA DO LUAR


SERRA DO LUAR

"Viver é afinar um instrumento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro"


Walter Franco

SANTOS E PECADORES - Fala-me de Amor -

SANTOS E PECADORES

POEMA


Poema

A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre
as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.


Manoel de Barros

A RUIVA ROSA SONORA


Com sua agulha sonora
borda o pássaro o cipreste:
rosa ruiva da aurora,
folha celeste.


E com tesoura sonora
termina o bordado aéreo.
Silêncio. E agora
parte para o mistério.


A ruiva rosa sonora
com sua folha celeste
imperecível mora

no cipreste.

(Cecília Meireles)

MEU CORAÇÃO





Hoje o meu coração bate
não de amor, alegria ou paixão...
Bate...
Mas está triste e vazio...